segunda-feira, 7 de setembro de 2009

A conta, por favor!


Aos trinta e poucos anos, solteira há três, Cris resolveu tentar um novo relacionamento. A questão é que já estava acostumada a ir e vir sem ter que dar satisfações de sua vida para ninguém, a sair com as amigas todo final de semana; sem falar que a cada dia que passava ela se tornava cada vez mais intolerante à burrice. Principalmente a masculina. Para Cris, homem tem que ser superior a ela, profissionalmente e pessoalmente; senão, foi-se o respeito. Na vida sentimental, de uma forma ou de outra, o homem tem que conduzir a relação, ser inteligente e encantar. Hm...estava ficando difícil. 
Até que em uma destas situações da vida, ela conheceu Luis. Boa pinta, carrão, quarenta e dois anos, bom emprego, não muito inteligente, mas bonzinho. Bonzinho ? Hm... vamos tentar. Saíram para jantar a primeira vez, para conversar, se conhecer melhor e não passaram de dois sucos de abacaxi e uma porção de sanduíche aberto. Conta divida, sem nenhuma menção de Luis para pagá-la sozinho. Nada inteligente, papo conduzido por ela. Hm (de novo). As amigas diziam: “Cris, dá mais uma chance, tu tens personalidade forte, vai ver intimidou ele.” Cris então, resolveu dar uma chance a Luis e a ela mesma, afinal, não podia se ter tudo em uma pessoa só. E o cara era bonzinho. Saíram uma segunda vez para um vinho na casa dele. Ele continuava a ser bonzinho e o papo continuava sendo conduzido por ela.

Na terceira vez, foram comer uma pizza em um lugar descolado da cidade. Luis foi logo dizendo que ELE ia tomar cerveja, Cris fingiu não se importar com a indelicadeza e acompanhou-o. No final, a conta. Aaaah, a conta. Quarenta reais: uma pizza e três cervejas long necks (que ela quase não bebeu). Cris mexeu na bolsa, nada. Mexeu na carteira, nada. Então tirou o cartão de crédito e botou em cima da conta. Luis, afastou o cartão, olhou o valor, tirou uma nota de vinte reais da carteira e colocou junto ao cartão. O que ????? Na hora de pagar a conta no caixa, Cris teve vontade de pagar o valor integral sozinha, mas se conteve. O rapaz do caixa, por três vezes dirigiu-se a Luis, pensando que o cartão era dele. Mais uma conta dividida. Nem o cara do caixa acreditava no que estava assistindo. Luis sugeriu tomarem um espumante na casa dele, que segundo ele, estava na geladeira esperando pelos dois. Cris aceitou, pensando que um espumante gelado talvez salvasse a noite. No apartamento de Luis, Cris perguntou: “E o espumante gelado ?” Luis responde: “Mas tu queres que eu abra mesmo?” Pronto...caiu a casa. Cris queria se atirar da janela do apartamento, ficou sem jeito, não sabia o que fazer. E o espumante estava quente. O que podia restar de chance para que “aquilo” desse certo, foi por água abaixo.
As amigas que antes incentivavam, disseram: “Cris, a próxima vez que ele te convidar para sair, diz que não tem dinheiro. De repente, ele ainda não sabe como conduzir.” Semana seguinte, Luis liga e convida Cris para darem um volta. Seguindo o conselhos das amigas, Cris argumenta: “Vamos ter que deixar para outro dia, estou sem dinheiro.” Num tom de quem profetiza a melhor frase da semana, Luis responde: “Mas a gente não precisa gastar dinheiro. Podemos sair e tomar um suco, ou um refri.”

Algumas horas depois, a amiga Carol liga e sugere um cinema para as duas naquela noite. O programa seria bem mais divertido do que “tomar um suco ou um refri” com Luis. Não teve dúvida, pegou o telefone, ligou para Luis e inventou uma desculpa. Não poderia sair naquela noite com ele. Bonzinho como sempre, Luiz disse que tudo bem, voltaria a ligar outro dia. Alguns dias depois, era um sábado à noite, Cris estava assistindo a um filme no DVD, o celular toca. Era Luis. Não atendeu.