segunda-feira, 5 de abril de 2010

Confissões

Ok, eu confesso: aos quatro anos, pintei com giz de cera o quadro com a imagem de um palhaço, que meus pais tinham em casa. E apanhei, muito.
Comi barata quando criança, pensando ser um pedaço de chocolate; matava moscas com a mão e as enfileirava, fazendo desenhos com os insetos na classe para deixar a professora com nojo e adorava comer casquinha de ferida do joelho esfolado na brincadeira de esconde-esconde.
Já viajei escondido prá Europa, roubei o carro dos meus pais durante a madrugada, saí de um bar sem pagar a conta.
Confesso que quase fui pego pelos pais da minha namorada, transando com ela, no chão da sala, em cima do tapete persa da minha sogra perua. Não fosse minha capacidade quase atlética de sair correndo e pular a janela da sala da mina, teria apanhado como um vira-lata sarnento, com um taco de baseball do pai dela.
Como um racker, invadi o computador da namorada para espionar sua vida e descobri que ela me traía com dois caras do time de futebol adversário da escola.
Já fiz xixi em beira de estrada, caí de bêbado no próprio vômito, abraçado como cobra no vaso sanitário.
Estraguei a festa de formatura de uma amiga, enchendo a cara e falando um monte de bobagens para um amigo, que obviamente, enfiou a mão na minha cara, me derrubando no chão.
Transei na beira da praia, em uma noite de Réveillon, com o corpo colado na areia, sem me importar com os fogos de artifícios e as pessoas que ao nosso redor, comemoravam a passagem do ano.
Sem dinheiro para comer, dormi no banco de uma praça em Roma e roubei uma carteira de couro de piton na loja onde trabalhava na Irlanda, somente pelo prazer e pela adrenalina em não ser pego com um acessório tão caro dentro do bolso do casaco.
Transei no banheiro de um pub com a garçonete do local, namorada de um amigo, mas não fui capaz de comer ninguém em um cabaré tradicional, em Paris.
Já beijei outro homem para satisfazer minha curiosidade em sentir o gosto da boca de uma pessoa do mesmo sexo e, totalmente bêbado e incapaz de discernir alho de bugalhos, chamei um travesti de “gostosa”.
Ah, a prima da minha mulher... Gostosa como ninguém. Fazia questão de receber o casal para jantar em nossa casa, pois sabia que cedo ou tarde nos esbarraríamos na cozinha, em segredo; no banheiro, para satisfazer nosso desejo em cinco minutos e nocautear nosso tesão.
Procurei por respostas para perguntas que já não existiam, no celular da minha mulher, acreditando ser mais esperto que ela.
No desespero e na solidão, me pendurando do lado de fora da grade da cobertura onde morava, tentei acabar com a minha vida.
Ri no velório do meu pai, em catarse, no limite entre loucura e sanidade mental, externando a dor da perda da pessoa que mais amava, do meu herói.

Já odiei Deus e O desafiei.

Desejei a morte e vi pessoas morrer, com prazer. Fiz curso de tiro ao alvo, porque a arma me dá a sensação de poder. De poder imaginar alguém logo à minha frente e poder acabar com a vida da pessoa, como um Deus. Eu seria capaz disso.
Não, não sou tão ruim e repugnante assim. Eu sei ser um cara legal, divertido, interessante, boa companhia.
Quem um dia não fez algo assim ?
Quem um dia não odiou, sentiu nojo ou fez coisas nojentas e cruéis? Quem um dia não traiu alguém querido ou a si mesmo?
Eu sou humano, soberano, prepotente e inseguro, decidido e covarde, feliz e depressivo, otimista e cético, crédulo e ateu.
Odeio intensamente, mas amo mais ainda.