quinta-feira, 8 de julho de 2010

Seda Pura

Reencontraram-se, após vinte anos. Conheciam-se desde a adolescência, um era namorado do amigo do outro, tinham apenas um contato superficial.
A vida levou-os por caminhos diferentes, e depois de muitos anos, por circunstâncias da vida, cruzaram-se novamente; já adultos, com suas vidas atribuladas, responsabilidades, família, trabalho, contas a pagar, etc.
Descobriram ter muitas coisas em comum, conduziam a vida da mesma maneira, tinham os mesmos princípios, o mesmo gosto por algumas coisas e claro, envolveram-se. Não aquele envolvimento carnal, mas aquele envolvimento intelectual, emocional, o mais profundo (e complicado) deles.
Mas, outra vez  por circunstâncias da vida, separaram-se. Não era a hora de ficarem juntos, “um” tinha medo de encarar a nova fase com o outro, o “outro” tinha medo de arriscar-se por muito tempo e decepcionar-se novamente.
Assim, cada um seguiu seu caminho, como se nada tivesse acontecido entre eles, como se nunca tivessem pensado em ficar juntos. Seguiram, com aquela mágoa em relação à covardia, à resistência e a intolerância do outro.
A vida tem um senso de humor bastante sarcástico e novamente, por uma necessidade do dia-a-dia, “um” procurou o “outro”.
Trataram do assunto prático, trocaram idéias, e como sempre, ao final, já na porta de saída, as questões pendentes vieram à tona. De forma sutil, nas entrelinhas, é verdade; mas ambos eram inteligentes o bastante para saber do que estavam falando. “Um” disse para o “outro”, que se pudesse, voltaria no tempo e encerraria a fase de vida anterior naquela época, para com o “outro” recomeçar uma nova, pois ainda, sua vida permanecia na inércia, cheia de frustrações e desejos não realizados. O “outro”, bastante prático e sutilmente cruel, disse que lamentava a insistência de “um”, em manter-se infeliz. “Um”argumentou que era uma pessoa de valores e princípios e que quando estava em uma situação, levava-a até o fim, com comprometimento. O “outro”, repetidamente, mas principalmente prático, disse que “o fim” para “um” já havia acontecido há muito tempo, e que só ele, e apenas ele, não havia percebido ainda. E que ele, o “outro”, apesar dos seus defeitos e limitações, encarava a vida com coragem, sempre tentando um recomeço. A vida e as relações são como um tecido fino, seda pura. Um vestido rasgado, que mesmo depois de remendado, sua costura continuará aparecendo para sempre.