terça-feira, 22 de setembro de 2009

Falling in love again....

Helena acordou novamente atrasada para o trabalho. Há dias não conseguia mais acordar dentro do horário normal. Sempre fazia tudo correndo: o despertador tocava, ela pulava da cama, tomava um banho e um café rápidos, chamava o elevador (ela tinha mania de ficar apertando o botãozinho insistentemente como se aquilo fosse fazer o elevador chegar mais rapidamente) e enquanto esperava-o chegar, já ia fazendo algumas ligações profissionais importantes. Estava cansada da correria do trabalho, cansada do envolvimento com as aulas de mestrado, cansada das muitas reuniões após o expediente, das quais saía mais desanimada ainda porque sabia que nada do que se falava naquela sala, ia ser colocado em prática.

Desceu até a garagem do prédio, pegou o carro e seguiu para o trabalho. Enquanto estava no engarrafamento matinal tradicional, pensou que precisava dar uma radicalizada, movimentar, sacudir tudo! Mas e tempo para isso ? Tempo para montar uma mega estratégia para causar um terremoto em sua vida ? Ultimamente não tinha tempo nem para almoçar. Ir na manicure, cortar o cabelo ? Nem pensar.
Mas nem tudo era desânimo em sua vida. Tinha aquele gato com quem estava saindo há meses. Há meses ? Aaaaaai que desânimo. Felipe foi apresentado por uma amiga em comum. Sócio em uma empresa de engenharia civil, divertido, inteligente, charmoso, esportista, fazia o tipo aventureiro. Tudo perfeito, exceto por três coisas: ele morava em outro estado, vinha visitá-la somente uma vez por mês e não queria envolvimento.
E disso Helena também estava cansada. Cansada de se apaixonar pensando que seria fácil cair fora quando bem quisesse. Por isso continha seus impulsos, continha sua vontade de ligar para Felipe sem combinação prévia, de perguntar quando se veriam novamente. Estava cansada de jogar estes joguinhos onde tudo não passava de um mero romance. Um romance que ela tinha certeza, ia passar. Sua vida sentimental também precisava de uma sacudida, um terremoto, um tsunami....que apagasse tudo que passou, para que depois da calamidade, ela pudesse recomeçar do zero.
“Ah, chega de devaneios. Planeta Terra chamando Helena”. Já estava estacionando do carro no estacionamento do prédio onde a empresa estava sediada. Uma mesa cheia de papéis e uma agenda cheia de reuniões e compromissos com clientes a esperavam. Não tinha tempo sequer para se dar ao luxo de pensar em qualquer coisa por muito tempo.
Mas era sexta-feira. E estava decidido: iria ligar para Carol, Cris, Dani e convidaria as amigas para jantar naquela noite. Dentro do elevador, pegou o celular e começou a escrever um torpedo para as amigas: “Gurias, que tal um jantarzinho divertido hoje à noite no.......” Foi quando tocou seu celular. Era Felipe, dizendo que estava na cidade e queria jantar com ela naquela noite. Precisava conversar com ela seriamente. Sem muita alternativa de escolha, aceitou o convite para a janta.
Não sabendo definir muito se era uma questão de ser realista ou pessimista, às 20:30h começou a arrumar-se para o compromisso com Felipe, sem muito entusiasmo. Afinal, o que um homem com as qualidades dele, com o espírito aventureiro dele, com a liberdade dele, iria querer conversar tão seriamente com ela ? Ele iria terminar o relacionamento que eles tinham, lógico. Fosse lá que tipo fosse o relacionamento, ele iria terminar. Era isso. Mas OK, o mais importante de tudo era que Felipe era honesto. Cruelmente honesto. E embora às vezes isso chocasse, era melhor, mais prático e menos sofrido.
Às 21h Felipe ligou para seu celular avisando que já estava embaixo do prédio esperando por ela. Estava maravilhoso. Jeans, camiseta branca, sapato esportivo e aquele perfume de estremecer as pernas de Helena, compunham o visual despojado do gato. Helena também não tinha deixado por menos, caprichou no visual sedutor com nuances de “não sabia o que vestir hoje”.
Entraram no carro e foram para o restaurante.
Gentil como sempre, Felipe puxou a cadeira, acomodou Helena, sentou-se, pegou a carta de vinhos oferecida pelo garçom e escolheu um vinho para os dois. Ele sabia exatamente o que escolher.
Enquanto esperavam pelo vinho, conversaram sobre amenidades: como foi a viagem de Felipe, como estava o trabalho, o tempo, o mestrado de Helena...
Foi quando o garçom chegou, Felipe confirmou a escolha da bebida, o garçom serviu-os e retirou-se.
- Então, Fe.... o que tem de tão sério para conversarmos ? – Helena não conteve a ansiedade.
- Bom, Helena... estamos saindo juntos há algum tempo, creio que quatro meses...
- Sete.
- Então...sete meses... e nosso relacionamento tomou o rumo que eu dei para ele. Somos uma ótima companhia um para o outro, nos damos bem na cama, nos divertimos, temos afinidades, mas nunca passou disso, porque eu sempre deixei claro para ti que não queria um envolvimento emocional maior.
- Sei....(Que vontade de gritar! Alguém traz a colherinha para eu cortar meus pulsos ?) – pensou Helena.
- Tu sabes como eu sou, me conhece bem o suficiente para saber que sou inconstante, meio aventureiro, trabalho demais, estou sempre sem tempo.
- Sei....(Cadê a droga da colherinhaaaaa?)
- A vida de solteiro me dá liberdade, privacidade, faço o que bem quero na hora que eu quero, com quem eu quero. Isso é ótimo!
- Olha, Fe... vamos deixar de rodeios ? Não precisamos nem escolher o prato, colocamos o assunto preto no branco, terminamos o vinho e cada um vai para sua casa livre, leve e solto, ok ? Sem stress.
- É que na verdade .... – tentou explicar Felipe.
- Não, eu entendo. Concordo contigo plenamente, afinal, tu sempre deixastes claro que não querias envolvimento e eu fiz a escolha de continuar te encontrando quando tu viesses para cá. Está tudo claro, tudo bem. Na boa. – Helena empurrou a cadeira e ia levantando-se.
- Casa comigo ?
E foi aí que o chão de Helena tremeu e ela foi avassaladoramente atingida por um tsunami.


“I'm falling in love again
ain't nothing I can do
Falling in love again
And this time it's with you…”

PS: Desculpe, Aninha...não resisto a um final feliz. Finais trágicos não são meu forte, mas prometo continuar tentando