quarta-feira, 21 de julho de 2010

Alguém desliga a chuva, por favor ?

O incontestável descontentamento do ser humano

Manhã ensolarada e fria de julho, dois vizinhos conversam no portão de suas casas:
- E aí, vizinho ?
- Bom dia, vizinho... Tudo bem com o senhor ?
- Olha, fora o frio, tudo bem.
- É, ta frio mesmo... dizem que este ano teremos o inverno mais frio que o do ano passado.
- É verdade, ouvi isso no noticiário. Não suporto frio.
- Eu também não.

Tarde de sol poente em dezembro, dois vizinhos conversam no portão de suas casas:
- E aí, vizinho ? Tudo bem com o senhor ?
- Tudo vizinho, fora o calor insuportável, tudo bem.
- Bah, nem me fala, trabalhar na rua com este calor, é massacrante.
- É verdade. Ouvi no noticiário que esse verão vai ser de lascar, dos infernos, literalmente.
- É, também ouvi isso. Não suporto calor.
- Nem eu.

Vai entender....

terça-feira, 13 de julho de 2010

Quando o manual não acompanha...

Dentre tantos benefícios que a internet trouxe, tem um que eu acho especialmente útil: encontramos em menos de 5 minutos todo o tipo de manual de instruções.
Como não existe perfeição, há um manual inexistente na internet: o do "lanchinho" novo.
Melhor definir "lanchinho" antes de iniciar o assunto: "lanchinho" é a pessoa que escolhemos para compartilhar momentos prazeirosos. Ainda não é um namorado e ainda não contratamos o "buffet" do casamento.
Então chega o dia em que estamos frente a frente com o lanchinho novo. Pode ser um colega de aula ou do trabalho, alguém que conhecemos na noite ou na internet, não importa como nossos caminhos se cruzaram, os primeiros encontros serão sempre de reconhecimento do "campinho" (adoro diminutivos).
"É aí que eu me refiro" (ouvi isso numa propaganda)... os primeiros encontros são de suma importância, de forma que cada um deve ter em mãos o seu manual de instruções!!!
O "ter em mãos" é num plano abstrato, não significa entregar pro lanchinho "Como entender Rê-natinha em 100 lições" encadernado numa capa lilás com gliter, significa de cara mostrar para o "lanchinho" pelo menos cinco das suas regras básicas.
Todo mundo tem, pelo menos, 5 regras básicas! E porquê isso é importante??? Porque o lanchinho pode cometer um pecado mortal e colocar tudo por água abaixo.
Aconteceu comigo e vou contar: uma vez levei um "lanchinho" pro aniversário da minha prima, era um pagodinho pros amigos! Detalhe: o lanchinho ODIAVA pagode. Não era um odiava em letras minúsculas, era ODIAVA em caixa alta vermelho piscante. Depois da festinha, fomos ao Mc Donalds e no meio do meu Big Mac ele disse que nós não tínhamos muitas coisas em comum e que era melhor nós nos afastarmos, mas que eu era muito legal e merecia um integrante da "Inimigos da HP" ou do "Exaltasamba".
Se eu soubesse que para ele pandeiro e tantan eram pecados mortais nunca o teria convidado para o evento! Talvez, se eu tivesse recebido o manual, estivéssemos hoje casados, com filhos e ouvindo música nativista todos os dias!
Hoje em dia já não cometo o mesmo erro.
Já me apresento: me chamo Rê-natinha; não como mondongo, língua e moela; escovo os dentes tomando banho; escuto estações de rádio de notícias mais do que as que só tocam músicas; não gosto de guardar as roupas no armário; a tolha de banho tem que estar sempre seca; não mande em mim, convença-me com carinho; e, por fim, conversar resolve problemas, pois cara feia é fome!
Se manuais funcionam ou não, difícil responder, pois talvez a única coisa que seja determinante para uma relação feliz é o diálogo!
Mas o diálogo verdadeiro: eu penso assim, assado e fritado. E você, lanchinho?? O que você pensa? o que você quer? o que você deseja? O que diz o seu manual????

segunda-feira, 12 de julho de 2010

Não vi a linha...


Onde é a linha divisória??? Linhas divisórias deveriam ser concretas, deveriam ter cor vermelho piscante ou uma sirene... de forma que quando ultrapassássemos, saberíamos que já estamos do outro lado...
Pois bem, no meu caso não teve linha em vermelho piscante, nem uma sirene que me avisasse, você é uma TIA!
Mas tia eu já sou, desde que Luise nasceu, há quase quatro anos.
Não, não é essa tia, é a TIA, uma outra que um dia chega a sua frente e toma conta do seu corpo, sem pedir licença, é claro!
Vou contar como encontrei com a TIA:
Almocei no Shopping, dia de semana, descendo a escada rolante um grupo de meninos, que não deveriam ter mais que 12 anos, estava alguns degraus acima...
Sabe aquelas coisas de guris que ficam se empurrando, foi assim, ficaram rindo e se empurrando enquanto a escada descia... Chegaram cada vez mais perto do meu degrau... E eu ali, em pé, esperando a escada chegar ao solo...
O empurra e empurra continua até que o menino que estava bem atrás de mim diz: "Ô meu, para de me empurrar, se tu quiser saber o telefone da TIA, é só pedir, mas não me empurra!"
Não tinha nenhuma outra pessoa na escada rolante... só eu e esses guris... me dei conta: "Tia?!?!?!?!? Que tia???? Só tem eu aqui!!!"
Tóin tóin tóin
TU ÉS A TIA!!!
Daí que me dei conta que tinha ultrapassado a linha... maldita linha imaginária... que nos mostra de supetão que a MINA virou TIA.

quinta-feira, 8 de julho de 2010

Seda Pura

Reencontraram-se, após vinte anos. Conheciam-se desde a adolescência, um era namorado do amigo do outro, tinham apenas um contato superficial.
A vida levou-os por caminhos diferentes, e depois de muitos anos, por circunstâncias da vida, cruzaram-se novamente; já adultos, com suas vidas atribuladas, responsabilidades, família, trabalho, contas a pagar, etc.
Descobriram ter muitas coisas em comum, conduziam a vida da mesma maneira, tinham os mesmos princípios, o mesmo gosto por algumas coisas e claro, envolveram-se. Não aquele envolvimento carnal, mas aquele envolvimento intelectual, emocional, o mais profundo (e complicado) deles.
Mas, outra vez  por circunstâncias da vida, separaram-se. Não era a hora de ficarem juntos, “um” tinha medo de encarar a nova fase com o outro, o “outro” tinha medo de arriscar-se por muito tempo e decepcionar-se novamente.
Assim, cada um seguiu seu caminho, como se nada tivesse acontecido entre eles, como se nunca tivessem pensado em ficar juntos. Seguiram, com aquela mágoa em relação à covardia, à resistência e a intolerância do outro.
A vida tem um senso de humor bastante sarcástico e novamente, por uma necessidade do dia-a-dia, “um” procurou o “outro”.
Trataram do assunto prático, trocaram idéias, e como sempre, ao final, já na porta de saída, as questões pendentes vieram à tona. De forma sutil, nas entrelinhas, é verdade; mas ambos eram inteligentes o bastante para saber do que estavam falando. “Um” disse para o “outro”, que se pudesse, voltaria no tempo e encerraria a fase de vida anterior naquela época, para com o “outro” recomeçar uma nova, pois ainda, sua vida permanecia na inércia, cheia de frustrações e desejos não realizados. O “outro”, bastante prático e sutilmente cruel, disse que lamentava a insistência de “um”, em manter-se infeliz. “Um”argumentou que era uma pessoa de valores e princípios e que quando estava em uma situação, levava-a até o fim, com comprometimento. O “outro”, repetidamente, mas principalmente prático, disse que “o fim” para “um” já havia acontecido há muito tempo, e que só ele, e apenas ele, não havia percebido ainda. E que ele, o “outro”, apesar dos seus defeitos e limitações, encarava a vida com coragem, sempre tentando um recomeço. A vida e as relações são como um tecido fino, seda pura. Um vestido rasgado, que mesmo depois de remendado, sua costura continuará aparecendo para sempre. 

terça-feira, 6 de julho de 2010

DES-COMPASSAR... DES-ESTRUTURAR... DES-MONTAR...




Parei neste findi pra pensar no prefixo “DES”.
DES é mais ou menos assim: uma situação confortável que depois de uma mexida, dá uma sacudida pra alinhar tudo de novo.
Então: meu findi foi DES-compassado.
Sou COMpassada porque meu ritmo é naturalmente escorpiano.
DES-compassada porque saí da zona de conforto pra areia movediça.
E nem imagina a mexida que isso dá.
Areia movediça porque fui numa Milonga.
Milonga, no meu caso, significa: Tango.
Tango, no meu caso, significa: região DES-conhecida, ignorada, ignota, incógnita e estranha, ou seja: saia justa total, vulnerabilidade a flor da pele.
Nesta pequena definição encontrei a melhor constatação: não precisa de música porque a afinação entre o casal é basicamente simétrica e, indiscutivelmente, perfeita.
Respiração COMpassada. E quando você acha que a dança vai começar não começa porque quem decide não é a mulher e sim quem esta te conduzindo, ou seja, o homem.
Não dancei nada. Nem me atreveria. Como boa escorpiana, sentindo-me completamente acuada e vulnerável, preferi observar.
Observar tanto que descobri que no Tango a mulher é mulher. Sem bandeiras, sem feminismos. E o homem... bom o homem é basicamente homem e sabe exatamente onde vai te levar.

bj bj

gabi