segunda-feira, 9 de novembro de 2009

Gritos


Pois eu não consigo entender como que as pessoas conseguem manter o status da sua felicidade permanentemente em "off line". Eu já estive por um bom tempo conectada à vida sempre em off.
É sufocante, dá um aperto no peito e ficamos estáticos sem saber como reagir. O pior de tudo é que justificamos para as pessoas, que eventualmente (como se eventualmente fosse suficiente) estamos no status "on line" ou "ocupado".
Mulheres que aceitam resignadamente a traição dos seus maridos, pessoas que aceitam as condições injustas de trabalho, casais que brigam constante e doentiamente. Enfim... é aquela frasesinha clichê que diz que somos os únicos responsáveis por nossa felicidade e cabe somente a nós mudar o rumo da nossa vida.
Mas estou comentando tudo isso, porque tenho um casal de vizinhos, bem novinho: ela tem cerca de 26 anos e ele tem 30. Têm uma menininha linda de quatro anos, com cachinhos castanhos e carinha de anjo e um menino de quase dois anos, alemãozinho e gordinho, com cara de bebê de propaganda da margarina. O pai é calmo, boa praça, mas daquele tipo que nunca vai progredir muito na vida. Ela é dona de casa, vem de uma família classe-média onde o pai veladamente bate na mãe, mas todos na cidade acham ele uma ótima pessoa.
Logicamente que a neura acabou sendo hereditária e ela (minha vizinha) é uma pessoa totalmente instável e desequilibrada.
Eles brigam muito. Domingo é o dia certo das brigas, mas durante os outros dias da semana, também rola quebra pau.  Ela grita tanto que um dia eu estava passeando com meus cachorros há duas quadras de distância e ouvi os palavrões.Urra como um animal ferido, ofende o marido e as crianças. Chama a menina de mula e manda o bebê calar a boca, como se fosse um adulto de 30 anos. A voz do marido, quase não se ouve.
Ontem à noite, como não poderia deixar de ser, às 22:30h eles começaram a brigar. Eu ouvia tudo da janela do meu quarto e me agoniava, porque não posso reagir. Fico feito barata tonta, caminhando de um lado pro outro, resmungando sozinha. Me agonia ver o choro das crianças e não poder tirá-las de lá.
É triste ver que um casal tão jovem desgasta a relação desta maneira e a mantém de forma tão doentia, para eles e para as crianças. Com o tanto de vida que eles têm pela frente, poderiam ser felizes se estivessem separados.
O resultado disso é uma menina de cachinhos castanhos, tão introspectiva que após brincar sozinha com suas bonequinhas, pega no sono em uma cadeira no pátio, em pleno inverno de 10ºC do Rio Grande do Sul; e um menino alemãozinho com cara de bebê de propaganda de margarina, que chora muito e constantemente. Aliás, ele não chora: ele urra como a mãe, um animal ferido, lutando prá sobreviver.


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